70 e 80
70 e 80
Cor forte, sol quente e nada de som sem ruído, mato fervido, tarde na estrada, em todos os cantos soprando aquela inocência pelas paradas, as pessoas vestindo roupas apertadas, boca de sino, chacis de madeira, e todo assunto contado era ouvido em rádios, ou em programas de tv que todos viam ao mesmo tempo, havia também velhas histórias ainda intactas, talvez fossilizadas na vontade de descobrir o algo novo dentro de lendas, e lugares preservados, distantes das políticas públicas de capitalização, ou das cercas egoístas de grandes empresas ou latifundiários.
Igrejas antigas, protegidas pelo medo pueril ao Deus que andava pelas ruas, e a demolição da ditadura estava em todo lugar cheias de sinal, eram nos cadernos de administração nas instituições, todos de capa-dura, nas grossas paredes de prédios velhos e cheios de infiltrações, em saletas mínimas, com alturas majestosas, secretárias guardando a ética na linha certinha que se obrigavam a fazer em suas anotações, e taquigrafia, dos sentimentos não, mas do que precisava ser moderno, e tudo era moderno, não importa vir com texturas de madeira e crochê colorido nos tapetes para forrar os assentos do carro, em todo canto um santo pendurado, no chiquê das velhas crenças, em mulheres saudando o vento ao entrar pela janela, abertas a um tempo cheio de esperança e rock'n'roll, tudo ao som ruidoso dos vinis cheios de cicatrizes, e os ruídos levando texturas aos ouvidos, e eu via com a orelha, o vento sarrar as olhas quentes da rodovia, via os filmes americanos e imaginava que era no quintal de casa, eu nem vivi a época que mais vive em mim, ela foi embora do mundo, mas está aqui.