A Grande Virtude 4
A Grande Virtude 4
ApostarAdoro piões, aquele brinquedinho antigo que se enrola um barbante e num gesto rápido se desenrola, para que ele gire, gire e gire.
Eu quando pequeno tinha um, e o pintei de prateado, ganhei de alguém que não lembro mais, e eu nunca o apostei. Fiquei de fora das rodas de desafio, um círculo desenhado no chão de um terreno no meio do nada, e ali no centro do riscado colocavam-se outros piões, e os meninos ao redor ficavam disparando os seus para ver se conseguiam tirar algum de dentro, e assim conquistar um a mais para suas coleções.
Eu não, ficava de fora, adulando minha oportunidade de brincar no prateado da tinta, bem distante de todos, com um imenso pavor de perdê-lo, tão forte que parecia meus próprios ossos, meus músculos enrijecidos conheciam aquela impressão todos os dias, e com o tempo se fossilizaram nela.
E ali do lado, eu estava às vezes distante da verdade simples, e ela era de repente um garoto mais frágil porém vencedor daquele dia, e eu lá, no cantinho de tudo, apartado por uma escolha pessoal, por uma escolha profundamente pessoal, eu enrolado no meu medo era puxado por um gesto forte, e ficava girando, girando, girando, dentro de meu círculo pequeno de impressões, sem ninguém de fora a conseguir me tirar, e eu rodava, rodava, rodava, cada vez mais preso ao barbante perigoso do medo, e abrindo aos meus pés um desenho único, de um único ponto, circular e minúsculo como meu tempo de menino, bem distante de tudo, de todos.
Eu, nem vencedor miúdo.