Teia desfeita.
Teia desfeita.
Crime esse que passa costurando os dois lados,
fechei os lábios,
cicatrizados,
o meu pecado é ferida e fala,
com minha boca eu digo,
e ouço que não posso,
então guardam,
escondem abaixo da costura,
das linhas fechando na agulha,
aos poucos cerzindo meus caminhos,
buracos,
pela roupa minha,
aos poucos fechados,
e de tempos em tempos novos pecados,
novos pedaços,
ligados no beijo,
laço de lábios, unidos,
perdido em pensamentos,
agora defeitos na teia,
no ato.
A sedução é casa invisível do aracnídeo,
ele guarda meus pecados no mesmo desenho,
uma estratégia nata, e para a morte,
minha,
dele,
de todos nós que não sabemos desfazer os tédios,
os medos,
os erros,
dos outros - claro
porque o meus tem outro nome: pecado.
Mas são unidos,
os pontos,
de um tempo passado,
guardado na educação de aranhas,
querendo sequestrar do vôo as borboletas,
enfeitar suas paredes tristes com asas de mariposa,
mortas em jantar,
almoço e lanche,
eu não como,
tenho boca fechada,
eu penso,
eu sinto,
eu sou uma teia enrolada,
na boca,
no sonho,
no instinto,
eu extinto,
eu nada.
Vou desfiar o meu inimigo,
sua aula e sua graça,
vou refazer meus armários e suas borboletas colecionadas,
vou desfiar o pecado em mil linhas,
jogar para todos os lados esse laço,
um a um,
procurando amarrar os pescoços dos aracnídeos,
e fazer do sonho uma porta,
costurando o caminho,
e eu serei fôrca,
pendurado na língua está o pedido,
a força.
Escutem de mim santas caveiras,
a vocês esqueletos de lepidópteros digo,
quero alma de borboleta.