Espírito Motor
sábado, 17 de novembro de 2007
  O Nada
O Nada

No meio do oceano existe um grande porto, e nele todas as águas param, é lá onde vou ser deixado quando o tédio em todas as coisas tiver me carregado de vez, e no leito dos dias eu já não vejo mais margens para me agarrar, o pecado praticado por mim foi ter aberto os olhos e visto tudo, enxergado a onisciência de dentro, ainda que minha ignorância fosse tão grande quanto meu erro, eu vi por dentro de todas as coisas, e isso me deixou sem rumo, até que as águas foram me levando, um corpo aos poucos afogado em si mesmo, na ausência do mistério, do charme, do segredo.

Eu vi todas as águas num imenso redemoinho,e no coração dele um peito que guarda o nada, vi todos os nomes, todos os sonhos, todos os entes marinhos e do céu, todas as vontades da rocha, da onda e do porto, ali tudo entrou engolido pelo vórtice da compreensão, quanto mais se explicava, mais deixava de dançar sobre as águas, e quanto menos dança, mais o mar parava em si mesmo, e o silêncio dos oceanos fez nascer distante de tudo, um porto onde seria o umbigo do mundo, o laço entre a criatividade e a destrutividade do destino.

Eu vi, lá no umbigo dos homens o laço com o mar, o mar sem nenhum monstro, sem nenhum tesouro, somente um buraco puxando a si mesmo, tirando da mesa a toalha de jantar, e eu vi, os seres todos sumindo antes de chegar, o tédio, o vazio, a solidão, desquarelava toda cor, vi na escuridão do porto um sonho finito, ali morrendo a cada queda d'agua, e o mistério foi-se indo.

De repente, acordei, vi na juventude de outro coração a praia segura e misteriosa que tanto me faltava no peito, de repente para ser feliz tive que me preencher de outro, e não posso temer me esconder no mistério alheio, tenho que deixar as minhas águas desertas, e meu porto de verdades beber de si mesmos, e aprender que no nada nada adianta. E nadei, para bem longe de mim, para bem perto do novo porto, lá onde todos os sonhos poderiam ter suas faces, e ainda assim naquele semblante tudo se esconderia, não cabia a mim mais explicar qualquer coisa, na praia cheia de mistérios os valores eram outros, o meu tédio enfim naufragara, e eu conheci de perto a solução de toda a razão, esse mal infinito que faz o pé afundar no chão movediço do mar, e eu andei por cima, sem medo de cair, no fim do mistério eu não vou chegar! Quero ele como o sol, como a areia, como a vida dentro de mim tão abissal, enfim, tudo isso por ti bem aqui, a transbordar.
 
Comentários:
Eu que, vezenquando, encosto no teu peito pra esperar a tormenta passar. E sempre encontro, mesmo em mar em fúria, calmaria. Porque você tem um jeito de ir me devolvendo ao movimento das ondas, embalando meus sonhos.
E fecho os olhos com ternura, pra te sentir no vento.No mapa que roubei do destino, traço sempre um caminho pro teu coração-tesouro.

beijos, tantos.
 
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Olá! Eu sou um professor dos anos iniciais do ensino fundamental. Minha principal estratégia de educação é considerar a construção do conhecimento como uma relação entre dois grandes universos, que eu prefiro chamar de mundos, o exterior e o interior.

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