Palavras Vermelhas
Palavras Vermelhas
Eu sei que a busca dos seres humanos é pela caracterização, na verdade, posso exagerar e dizer que o grande desejo do homem é ser reconhecido e explicado por outro, talvez em palavras, talvez em respeito, seja lá com que matéria for, o homem busca ser compreendido e solidificado na confirmação de outro.
Para dar esse presente a outro indivíduo precisamos adjetivá-los, seja como for, dar ao que requesita, um rótulo ou símbolo de seu resultado, e é essa a moeda dentro do mercantilismo emocional, o adjetivo.
Como eu já disse, poderia ser de qualquer formato ou abstração, basta-nos dar a alguém o conteúdo que lhe preenche, a tinta que dá forma e corpo à letra, e pronto, esse alguém sentirá por alguns instante ou até mesmo muuuuuuito tempo, sua tão desejosa busca.
O preço de trocarmos adjetivos é negociarmos os nossos, pois inevitavelmente a caracterização de um depende da característica de outro, então de alguma forma estaremos trocando por palavras nossas confecções de resultados, um homem bom que diz que o outro é mau, está fazendo um serviço de usar o que sente e sabe sobre ser bom e aplicando o contrário naquele que diz ser mau, tal movimento custa-lhe grande forças da razão, da história e da fibra moral que lhe revestir.
Quanto à razão haverá muito trabalho nas usinas de recursos e potencialidades, o homem vai pesquisar em si mesmo o que conhece para poder conferir alguma autoridade e firmeza dentro dos seus conceitos, e por eles fazer afirmações.
Na história a questão ganha abrangência e subdivisões, e inevitavelmente o adjetivo ao ganhar corpo histórico vai descobrir-se de que maneira ou política será levado ao fim de seu adjetivante.
A moral vai vir por último, o cáracter vai dizer se perderemos ao assumir um adjetivo ou se vamos investí-lo em outro, depois que soubemos o que é o significado de uma pessoa, depois que entendemos o lugar desse significado no tempo e no contexto desses índivíduos, a moral vem por último a dizer como será estampado para todo mundo esse rótulo a ser deixado com quem pede um resultado.
Há quem venda adjetivos, há quem troque, há quem empreste, há quem invista e tantos outros que deixam cair ou jogue fora dizendo-os sem o menor respeito consigo mesmos.
O mercado de adjetivos é o mais importante de todos os negócios humanos, antecedendo até mesmo o próprio mercado de bens de consumo, pois a adjetivação, vai nos fazer o consumidor que somos e o ser humano que queremos ser.
Na hora de adjetivar é preciso ter um coração firme no eixo da coesão, ou seja, tem que saber o que está percebendo, logo depois é preciso testar essa percepção num mapa de várias linhas históricas e atores atuantes, ao passo final, quando a palavra beirar a língua devemos reconhecer que roupagem moral vestimos para poder dizer aquilo que vai ser ouvido, pois as nossas adjetivações mudam de autoridade se formos rei ou plebeu. Entre os espíritos livres palavras de amor são brandas e etéreas, para os compromissados com os próprios acertos ou erros, as palavras são históricas e categóricas, sejam na edificação ou na destrutividade, para os espíritos que não conhecem-se as palavras são acidentes da sorte ou do azar, de quem ouve, ou de quem diz.
Qual a moral que me faz?